Especialista afirma que avaliação pós-ocupação ainda não se consolidou no país

Sheila Walbe Ornstein diz que procedimento se apresenta forte somente no meio acadêmico


Da Redação


Marcelo Scandaroli
Edifícios residenciais também podem passar por avaliação
Após a construção de um edifício, muitas vezes percebem-se problemas nos empreendimentos, tanto por especialistas quanto por usuários do edifício. Como forma de reduzir esses problemas no próprio edifício e em empreendimentos futuros, realiza-se a avaliação pós-ocupação (APO), que utiliza um conjunto de métodos e técnicas aplicados para realizar melhorias no projeto.
A arquiteta Sheila Walbe Ornstein, líder do Grupo de Pesquisa constante do diretório Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) intitulado Qualidade e Desempenho no Ambiente Construído e coordenadora de projetos na área de APO, afirma que o processo se encontra muito forte no meio acadêmico, mas que ainda não conseguiu se consolidar entre as construtoras.
Confira abaixo um trecho da entrevista, que será publicada na edição de dezembro da Revista Téchne:


O que é a avaliação pós-ocupação e quais os benefícios que traz para o processo construtivo?

A avaliação pós-ocupação é um conjunto de métodos e técnicas aplicados em ambientes construídos e em uso que leva em consideração tanto o ponto de vista dos especialistas quanto a dos usuários desse ambiente. É um procedimento de avaliação que cruza essas duas visões para definir diagnóstico e fundamentar recomendações em dois níveis: uma para alimentar intervenções no próprio ambiente objeto de estudo e outra para alimentar as diretrizes de futuros projetos semelhantes, na linha da qualidade e da gestão do processo de projeto. A ideia da APO é fechar o ciclo, usando requisitos para a avaliação de desempenho não só das etapas pré-projeto de construção, mas como também do uso.


Em quais situações é recomendado se fazer a avaliação?

Especialmente em edifícios muito complexos e também naqueles edifícios que se repetem como, por exemplo, edifícios escolares, pronto-socorros, equipamentos culturais que são multiplicados até mesmo diferentes cidades. A gente entende que quanto mais complexo for o ambiente em uso, no sentido de ter que abrigar uma série de atividades envolvendo uma gama muito distinta de usuários, de diferentes faixas etárias, condições físicas e culturais, mais importante é entender o comportamento desse usuário para preservar questões como a funcionabilidade, segurança, acessibilidade e adequação do ambiente, assim por diante.


A avaliação pós-ocupação já foi incorporada ao processo produtivo dos edifícios ou ainda está em amadurecimento no Brasil?

A avaliação pós-ocupação está bastante consolidada no meio acadêmico, nas universidades públicas e particulares por todo o Brasil. Mais recentemente ela foi incorporada como uma habilitação profissional para que aqueles que queiram trabalhar como consultores ou incorporar esse conhecimento para incrementar a qualidade dos projetos que estão desenvolvendo. Até existem construtoras e projetistas preocupados em ganhar um mercado mais global e, portanto, atender a ISO 9000, que estão utilizando alguns princípios da avaliação pós-ocupação, porém são princípios internos, como banco de dados internos com diagnósticos, aspectos positivos que deram certo e aspectos negativos que devem ser substituídos do ponto de vista funcional, construtivo, etc. Mas não se tem dados estatísticos disponíveis de uma forma generalizada para consulta sobre acertos e erros em função de cada tipologia, como se pode encontrar em países desenvolvidos, por exemplo.
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